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Global Columns

China e EUA: uma relação cada vez pior

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Renato Prelorentzou

No final de julho, Wendy Sherman, vice-ministra das Relações Exteriores dos Estados Unidos, fez uma visita oficial a Tianjin, cidade localizada no noroeste da China. Lá encontrou seu homólogo, o vice-ministro Xie Feng. O objetivo dessa visita oficial era ver se seria possível aliviar o atrito entre os dois países.

Não funcionou.

Xie Feng a recebeu entregando duas cartas. A primeira se intitulava “Lista de práticas inadequadas que os Estados Unidos devem abandonar” e a segunda, “Lista de casos particulares importantes que preocupam a China”.

A primeira exigia que o governo de Washington eliminasse incondicionalmente as restrições de visto para entrada nos Estados Unidos que pesam sobre altos funcionários do governo e membros do Partido Comunista Chinês e suas famílias. A carta também pedia a revogação das sanções americanas aos líderes do partido e do governo.

A segunda carta expressava “sérias preocupações” quanto ao tratamento dispensado a certos cidadãos chineses que foram proibidos de entrar nos Estados Unidos e também quanto à perseguição a diplomatas e ao crescente sentimento antichinês nos Estados Unidos.

A vice-ministra Sherman respondeu via Twitter que seu país “continuaria a pressionar a República Popular da China a respeitar as normas e obrigações internacionais”.

Daquela reunião até hoje as coisas pioraram. A China realizou testes com um novo míssil hipersônico, capaz de transportar bombas nucleares que podem voar a mais de cinco vezes a velocidade do som. Enxames de até 150 caças-bombardeiros chineses vêm invadindo o espaço aéreo de Taiwan com frequência cada vez maior. A China está construindo 119 silos subterrâneos para abrigar mísseis balísticos de alcance intercontinental.

E, esta semana, um relatório do Pentágono alertou que o gigante asiático está expandindo seu arsenal nuclear mais rápido do que se pensava apenas um ano atrás. A China talvez tivesse 700 ogivas nucleares em 2017 e pode ter mais de 1 mil em 2030 (os Estados Unidos têm 3.750).

Em Washington, o consenso é de que uma segunda Guerra Fria já começou. Vislumbra-se um conflito prolongado que não implicaria confronto militar direto entre as duas nações. Os conflitos seriam dirimidos nas áreas econômica, política, comunicacional e cibernética, no mundo da espionagem e da sabotagem, bem como por meio de confrontos armados mais limitados entre países aliados de uma ou outra das superpotências.

O Congresso dos Estados Unidos está avaliando dezenas de projetos de lei cujo objetivo seria limitar, neutralizar ou sancionar a China. Uma pesquisa realizada no início de 2021 pelo Pew Center revelou que 89% dos americanos viam a China como um país concorrente ou inimigo.

Estados Unidos e China vivem um dos piores momentos de sua relação. Seus atritos e agressões mútuas vêm aumentando nos últimos tempos. De acordo com uma teoria conhecida como Armadilha de Tucídides, quando uma potência em ascensão ameaça o papel dominante de uma potência estabelecida, o conflito é quase inevitável.

Certamente os Estados Unidos e a China estão fadados à competição. Mas o que deve ser igualmente óbvio é que os dois países também precisam colaborar. Há uma série de ameaças e problemas globais que põem em risco os interesses nacionais dessas duas superpotências e que não podem ser mitigados ou eliminados por qualquer uma delas agindo sozinha.

O exemplo mais ilustrativo dessas graves ameaças que exigem respostas conjuntas é a luta contra o aquecimento global. A própria natureza do problema, bem como as políticas para enfrentá-lo, requerem uma estreita colaboração entre Pequim e Washington.

E essa coordenação não vai acontecer por altruísmo, solidariedade internacional ou simplesmente porque seria a resposta mais razoável. Acontecerá porque convém aos poderosos, porque é do interesse nacional destes dois gigantes que o aumento da temperatura do planeta não leve a cataclismos devastadores, os quais não irão respeitar oceanos nem fronteiras.

Outro exemplo de área em que a colaboração entre China e Estados Unidos se faz indispensável é a saúde global. Sabemos que a covid-19 não é a primeira nem será a última pandemia a assolar o mundo.

E também sabemos que, nesta pandemia, a colaboração entre governos, inclusive dos Estados Unidos e da China, não viveu seu melhor momento. Mas não há dúvida de que a rapidez e eficiência com que os cientistas desenvolveram a vacina e as empresas privadas de vários países produziram bilhões de doses em tempo recorde são exemplos de situações em que a cooperação vence a competição.

A lista de áreas nas quais americanos e chineses serão forçados a se coordenar é longa e importante. A luta contra a proliferação nuclear – especialmente do Irã e da Coreia do Norte – e a proliferação de armas químicas e biológicas, o terrorismo islâmico, os ataques cibernéticos, a pirataria, o poder crescente das redes criminosas transnacionais, a anarquia dos fluxos migratórios, a instabilidade do sistema financeiro mundial, o tráfico de drogas, de pessoas e de armas, a gestão das gigantes de tecnologia – estes são apenas alguns exemplos.

Xi Jinping, o líder chinês, fez a pergunta que ele próprio descreveu como a questão fundamental deste século: “Será que a China e os Estados Unidos serão capazes conduzir adequadamente sua relação? Desta pergunta depende o destino do mundo, e os dois países precisam respondê-la”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.