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Global Columns

Manifestantes contra globalização sumiram

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Anna Capovilla

As cerejeiras em flor e as passeatas contra a globalização foram durante muitos anos o pano de fundo e os rituais inevitáveis da primavera em Washington. Hoje, as cerejeiras continuam florescendo, mas as manifestações de rua murcharam. Os protestos de primavera eram provocados pelas reuniões semestrais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, realizadas regularmente no início de abril. Os manifestantes, muitos vindos de longe, queriam protestar abertamente contra o livre mercado, a pobreza mundial, a deterioração do meio ambiente ou a política externa americana.

Frequentemente, faziam reivindicações específicas: o fim da imposição de reformas econômicas impopulares (austeridade fiscal, privatização, liberalização do comércio, desregulamentação) aos países pobres em troca de financiamentos do FMI e do Banco Mundial; o cancelamento da dívida dos países pobres com bancos internacionais; o fim dos acordos de livre comércio; a proteção do ambiente. Em geral, pediam o fim das pressões por medidas que, segundo eles, promoviam o capitalismo selvagem e a globalização desumana.

Agora, embora ainda devam ocorrer vigílias e comícios nas proximidades das sedes das reuniões, não se parecerão com os tumultuados e gigantescos espetáculos de outrora, com uso abundante de gás lacrimogêneo. Aonde foram os manifestantes? O aparente fim dos protestos contra o FMI e o Banco Mundial é um reflexo de transformações mais abrangentes na economia internacional, transformações que tornaram essas instituições financeiras globais menos temíveis e menos relevantes.

Em primeiro lugar, as medidas econômicas e as condições dos empréstimos que as duas agências antes costumavam impor às nações pobres deixaram de ser tão controvertidas.

Muitos países em desenvolvimento adotaram reformas próprias favoráveis ao mercado, enquanto o FMI e o Banco Mundial se tornaram menos dogmáticos. Na reunião deste ano, por exemplo, o FMI está adotando uma posição muito mais flexível em relação aos controles da movimentação de capitais internacionais impostos por alguns países - controles que costumava condenar de maneira intransigente. Do mesmo modo, as negociações globais dos acordos de livre comércio, há muito tempo um ponto extremamente sensível para os grupos de ativistas, não saem do impasse há uma década.

Além disso, as novas realidades da economia global levaram a uma mudança fundamental dos papéis e dos programas das instituições financeiras internacionais - e dos seus críticos. Desde o final dos anos 80, e na maior parte da década seguinte, os países em desenvolvimento participaram das reuniões do FMI para obter novos empréstimos e negociar mudanças das estratégias que eles deveriam adotar para obter os recursos.

Muitos países pobres agora estão sentados sobre cofres repletos de dinheiro, enquanto nações ricas são os novos pedintes internacionais. Os mesmos países que antes davam aula de economia agora precisam pôr ordem em suas casas fiscais e aplicar profundas reformas. Por exemplo, desde 2000, as economias dos países em desenvolvimento cresceram em média 6,1% ao ano; ao mesmo tempo, as economias avançadas cresceram míseros 1,8% em média. Consequentemente, enquanto em 2000 os países em desenvolvimento representavam um quinto da economia global, hoje sua participação aumentou para mais de um terço do total da produção mundial.

Os economistas concordam que essas tendências continuarão e mercados emergentes de forte crescimento, como China e Índia, já superaram ou em breve superarão as potências econômicas tradicionais. Essa expansão impressionante tirou milhões de pessoas da pobreza e está ampliando rapidamente a classe média dessas nações.

Além disso, mercados emergentes como China, Índia, Brasil e Indonésia enfrentaram a recente crise financeira muito melhor que os países ricos. Eles não estão atolados numa profunda recessão como a Espanha; não foram obrigados a salvar seu sistema bancário como nos EUA; não pediram a ajuda internacional como Irlanda ou Portugal; e não fizeram cortes draconianos em seus gastos públicos como a Grã-Bretanha. Os presidentes de bancos de investimentos agora não saem dos corredores dos bancos centrais e dos Ministérios das Finanças de Pequim, Brasília e Nova Délhi.

Esse novo mundo dificilmente se ajusta ao mundo que levava os manifestantes a se reunir em Washington na primavera.

Finalmente, após toda catástrofe financeira global - como a crise do peso mexicano de 1994 e a crise financeira asiática do final da década de 90 -, os líderes mundiais começaram a se reunir em cúpulas e a prometer reformas drásticas do sistema financeiro internacional a fim de assegurar que não haveria mais crises. Mas, depois que a sensação de emergência passou e as economias em dificuldades começaram a se recuperar, tornaram-se evidentes os custos e as complicações da revisão do sistema financeiro internacional - e a vontade política de empreender importantes reformas evaporou-se.

Em reconhecimento dessa realidade, os apelos para uma nova arquitetura financeira depois da grande recessão de 2008 foram substituídos por promessas mais modestas de modernização das "artérias" do sistema financeiro: endurecimento das regras aplicadas às instituições bancárias, revisão das normas contábeis, exame do papel dos fundos hedge e das agências de classificação de crédito e outras medidas.

Essa é mais uma razão pela qual, nesta primavera (no Hemisfério Norte), Washington mais uma vez verá as cerejeiras em flor e banqueiros e burocratas internacionais, mas menos manifestantes em confronto com a polícia antimotim. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA