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Global Columns

Ideias que Trump matou

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Terezhina Martino

Ainda é cedo para avaliar o governo de Donald Trump. Mas, graças à sua conduta, aos resultados de seu governo e seus constantes gols contra, algumas coisas já estão claras. Por exemplo, há algumas noções que, antes da chegada de Trump, eram comumente aceitas. Não são mais.

A verdade: Trump, seus porta-vozes e aliados na mídia e nas redes sociais (incluindo Vladimir Putin) demonstraram que para eles não existem fatos e dados indiscutíveis. Não há coisas como “a verdade”. Qualquer afirmação, dado científico e mesmo evidencias visuais, como fotos mostrando o tamanho de uma multidão no dia da posse do novo presidente, podem ser questionados. Defrontando-se durante uma entrevista com o que parecia ser uma verdade inquestionável, Kellyanne Conway, conselheira do presidente, negou-a, propondo em troca o que chamou de “fatos alternativos”. O entrevistador respondeu que, no caso, os fatos alternativos eram simplesmente uma falsidade (não se atreveu a qualificá-los de “mentira”). Conway retrucou, afirmando que a reação do entrevistador era típica dos meios de comunicação críticos do presidente.

A noção de que existem verdades passíveis de verificação por meio da razão e do método científico está sob ataque. E como temos visto, os políticos que defendem suas mentiras com “fatos alternativos” agora contam também com o valioso recurso das redes sociais. É irônico que nesta era onde sobra informação falte tanto a verdade.

Dirigir uma grande empresa ensina como dirigir um governo: Esta é uma ideia zumbi: nós a acreditávamos morta, mas de vez em quando renasce. É a crença de que, para ser um bom governante basta ter sido um empresário de sucesso. “Sou muito rico”, “sou ótimo negociador, “criei muitos empregos”, são algumas das frases que Trump repete e, segundo ele, garantem seu sucesso como presidente.

Mas, como outros já provaram (como Silvio Berlusconi), as habilidades e o temperamento que conduzem ao sucesso no setor privado não garantem uma boa gestão pública. O caos e a inépcia que até agora caracterizam o governo de Trump somente são superados por seus desastres em negociações que manteve dentro e fora dos EUA.

Da próxima vez que um empresário pretender governar um país, terá de aprender a lição que Trump nos deixará: o talento empresarial não se dá bem no setor público.

O presidente dos EUA é o homem mais poderoso do mundo. Trump provará que não é assim. Claro que ele tem à sua disposição enormes recursos e milhares de funcionários. Mas as forças que limitam seus atos são igualmente enormes – talvez até mais poderosas. Essas limitações do poder presidencial são internas e externas, legais e burocráticas, políticas e econômicas. A pesar de ser um dos presidentes com a índole imperial mais pronunciada, poucas de suas ordens vêm se transformando em realidade. Isso não quer dizer que Trump não poderá tomar decisões que terão enormes consequências – como a de retirar os EUA do Acordo de Paris. Mas decisões como esta não serão muitas, como ele supõe. E também está se tornando claro que há muitas iniciativas que deseja bloquear e não consegue. É o caso da investigação sobre seus vínculos com a Rússia. 

E também está descobrindo que chegar ao poder foi mais fácil do que exercê-lo. Com Trump, vai morrer a ideia de que o presidente dos EUAé todo-poderoso.

A longevidade de uma democracia a protege contra a corrupção e o nepotismo. Nas democracias deficitárias o Congresso, os tribunais e outras instituições do Estado não conseguem impedir que um presidente venal utilize as prerrogativas do cargo em benefício de seus negócios. Ou nomeie parentes para importantes cargos públicos para os quais não estão qualificados. Isso se verifica em todos os lugares. Nos países da África e América Latina esses abusos costumam ser frequentes, ao passo que nos EUA são comparativamente menos graves. Até agora.

Como sabemos, Trump nomeou sua filha Ivanka e seu genro Jared Kushner para cargos do alto escalão. E congressistas acionaram o presidente, acusando-o de violar a Constituição por lucrar com negócios realizados com governos estrangeiros. De qualquer modo, Trump também pôs fim à ideia de que corrupção e nepotismo só florescem nas repúblicas de bananas.

O governo Trump deixará dolorosamente claro para milhões de americanos que as eleições têm consequências concretas em suas vidas. Indiferença, falta de curiosidade e participação na política, ou o voto de protesto, geram custos muito altos. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO