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Global Columns

Trump, não salve Maduro

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Terezinha Martino 

O presidente americano, Donald Trump, e seu governo estão analisando a possibilidade de proibir a importação de petróleo venezuelano pelos Estados Unidos. Segundo a Casa Branca e outras autoridades da administração e também do Congresso, a medida sufocaria a economia venezuelana e acarretaria a queda do regime de Nicolás Maduro.

Não tenho tanta certeza. Acho que ela irá fortalecer o governo do chavista, enfraquecer a oposição e agravar a crise humanitária que vem devastando os venezuelanos.

Trump anunciou que estabelecerá sanções econômicas severas ao país se Maduro levar adiante sua ideia de convocar uma Assembleia Constituinte. As mais de 500 pessoas a serem eleitas num processo administrado e trapaceado pelo regime terão a missão de reescrever a Constituição.

A preocupação, que tem fundamento, é que o objetivo de Maduro e seus parceiros cubanos será usar esta nova Constituição - cuja redação e aprovação eles controlariam - para criar instituições e adotar políticas econômicas como as que reinam em Cuba. Por outro lado, mais de sete milhões de venezuelanos que responderam a uma consulta organizada pela oposição manifestaram seu repúdio a essa Constituinte.

Trump prometeu adotar sanções mais severas do que as que já vigoram. A política adotada por Barack Obama e mantida até agora é identificar os corruptos, traficantes, os que infringem os direitos humanos e outros criminosos que ocupam altos postos no governo da Venezuela e nas suas forças armadas e estabelecer duras sanções para esses indivíduos. Mas para alguns círculos em Washington e dentro da oposição venezuelana isso é insuficiente. Daí a proposta de proibir a importação de petróleo venezuelano pelos EUA.

Esta é uma má ideia, por três razões. Em primeiro lugar, a experiência histórica em matéria de sanções nos ensinou que bloqueios ou embargos econômicos quase nunca alcançam seu objetivo. Trazem mais sofrimento para a população, mas não afetam o governo e as elites que o apoiam. O caso de Cuba é o melhor exemplo. Em 1962 os Estados Unidos determinaram um bloqueio econômico cuja finalidade era derrubar o governo dos irmãos Castro. O único efeito desse bloqueio foi dar ao regime uma desculpa para explicar a catástrofe crônica que se abateu sobre a ilha.

E há mais exemplos. O que levou o Irã à mesa de negociações que culminaram em um acordo que freou seu programa nuclear não foram as sanções econômicas impostas há décadas, mas novas e sofisticadas medidas que atingiram funcionários do alto escalão do governo, seus parceiros e seu sistema financeiro. Vladimir Putin não se queixa muito das sanções gerais estabelecidas contra a Rússia, mas das que atingem especificamente as finanças dos seus colaboradores e amigos oligarcas.

A segunda razão é que o bloqueio do petróleo é desnecessário. Seus terríveis efeitos já foram provocados por Maduro. A economia venezuelana entrou em colapso e continua em queda livre. As reservas do Banco Central somam menos de US$ 10 bilhões de dólares, uma fração do que deveriam ser. A maior parte dos alimentos, insumos para sua produção ou remédios precisa ser importada mediante pagamento à vista em moeda forte, uma vez que quase ninguém fornece crédito ao governo venezuelano. A trágica realidade é que não existem dólares suficientes para importar o necessário para alimentar adequadamente os cidadãos ou fornecer os medicamentos que precisam. E esta tragédia foi criada por Chávez, Maduro e seus aliados cubanos. Apenas eles. Sem ajuda de Washington.

E a terceira razão é esta. Os responsáveis pela tragédia venezuelana são evidentes. O mundo já percebeu que os venezuelanos sofrem por culpa da oligarquia chavista que governa o país há 18 anos sob a tutela de Havana. Um bloqueio do petróleo por Trump seria uma maravilhosa e oportuna tábua de salvação política para Maduro. O presidente americano seria apresentado como o responsável pela fome.

Maduro vem denunciando a “guerra econômica declarada pelo império contra a Venezuela” como a causa dos males do país. O bloqueio apenas confirmaria suas alegações. Não adote essa medida, presidente Trump. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO