Contact Us

Use the form on the right to contact us.

You can edit the text in this area, and change where the contact form on the right submits to, by entering edit mode using the modes on the bottom right. 

         

123 Street Avenue, City Town, 99999

(123) 555-6789

email@address.com

 

You can set your address, phone number, email and site description in the settings tab.
Link to read me page with more information.

Global Columns

Sem precedentes

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Augusto Calil

“Chegamos aos primeiros 100 mil casos de infecção pelo coronavírus em 67 dias. Onze dias depois, chegamos a mais 100 mil, e o terceiro grupo de 100 mil infectados foi produzido em 4 dias. Depois, em apenas dois dias, foram outros 100 mil.” Foram as palavras de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial da Saúde, aos líderes que participaram de uma reunião de cúpula a respeito da covid-19. “Estamos em guerra”, disse. “E temos de fazer mais. Não é uma opção, e sim uma obrigação.”

No dia seguinte, o Senado dos EUA, historicamente disfuncional e fraturado, aprovou por unanimidade o maior pacote de medidas de ajuda econômica da história da humanidade. Mais de US$ 2 trilhões serão entregues a pessoas, governos locais e empresas privadas com o objetivo de mitigar a devastação causada pelas medidas necessárias ao enfrentamento da pandemia.

Quanto são US$ 2 trilhões? A explicação de Antony Bugg-Levine é: “Se, durante 24 horas por dia, por sete dias, a cada segundo, somarmos uma nota de um dólar, em aproximadamente duas semanas teremos juntado US$ 1 milhão. Para se chegar a US$ 1 bilhão, levaríamos 40 anos. Para chegar a US$ 2 trilhões, levaríamos 80 mil anos”.

A magnitude dessa iniciativa econômica é surpreendente. Mas ainda mais surpreendente é o fato de nem mesmo essa inusitada injeção de dinheiro ser suficiente para evitar uma contração da economia americana. A maioria dos especialistas imagina que, neste ano, teremos uma recessão nos EUA. Essa recessão causará um número sem precedentes de demissões, despejos de estabelecimentos por falta de pagamento do aluguel e uma onda de empresas quebradas.

O pessimismo se deve, primordialmente, aos inevitáveis riscos e problemas na distribuição dos US$ 2 trilhões aprovados pelo governo, bem como à continuidade da catástrofe sanitária. Pode ser que, para muitos dos possíveis beneficiários, o socorro financeiro chegue tarde. Muitas pequenas e médias empresas que ficaram sem clientes podem se ver forçadas a fechar as portas antes que chegue o auxílio financeiro.

Esses consumidores que não compram mais estão agora fazendo fila para cobrar o seguro-desemprego. Três semanas atrás, os EUA receberam 200 mil pedidos de ajuda econômica por parte de pessoas que perderam o emprego. O número mais alto de solicitações ocorreu em 1982, quando 650 mil trabalhadores pediram seguro-desemprego. Na semana passada, esse número foi de 3,3 milhões de pessoas, dez vezes mais do que na semana anterior.

A economia americana não é a única que está com problemas. A da China, por exemplo, ia mal antes da covid-19. Agora, a pandemia e as eficazes (ainda que severas) reações do governo causaram a segunda contração econômica mais grave da história do país desde os anos 70. 

Lutar contra o coronavírus é muito caro e esse custo se traduz em aumento sem precedentes no gasto público e nos níveis de endividamento do governo. Esse impacto é ainda mais grave nos países com grandes populações, economias precárias e sistemas de saúde fracos. Índia, Nigéria, Paquistão, Brasil, África do Sul, Bangladesh e México são exemplos de países pobres e populosos que sofrerão fortes crises fiscais.

Uma pandemia que deve ser enfrentada com ações locais, como o isolamento dos indivíduos e a solidariedade social, exige também uma grande dose de coordenação internacional. Os países devem se ajudar e atuar conjuntamente em relação a suas políticas econômicas, sua coordenação financeira e monetária, as políticas de crédito e a eliminação de barreiras ao comércio de remédios, materiais e equipamento hospitalar, por exemplo.

A atuação local, no nível mais individual possível, faz tanta falta quanto a atuação global no nível mais multilateral possível. Isso é possível, e o mundo já o fez antes. Na grave crise econômica mundial de 2007 e 2009, foi reativado o G-20, uma organização formada em 1999 por duas dezenas de países, que até então tinha sido irrelevante. Os chefes de governo dos países integrantes se revezam na liderança do G-20 e, durante a crise financeira, coube ao então primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, atuar como líder do G-20.

Brown e outros de seus colegas decidiram converter o G-20 no centro de coordenação econômica do mundo. Ainda que erros tenham sido cometidos nas respostas à grande recessão, também é verdade que o G-20 reativado e ativista contribuiu para que o estrago do imenso crash de 2007 e 2009 não fosse ainda pior.

Na crise que estamos vivendo, o isolamento individual salva vidas. Mas, no nível dos países, o isolamento nacional só fará com que os custos da crise sejam ainda maiores. Nessa pandemia sem precedentes, há precedentes que podem ser muito úteis. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL