Contact Us

Use the form on the right to contact us.

You can edit the text in this area, and change where the contact form on the right submits to, by entering edit mode using the modes on the bottom right. 

         

123 Street Avenue, City Town, 99999

(123) 555-6789

email@address.com

 

You can set your address, phone number, email and site description in the settings tab.
Link to read me page with more information.

Global Columns

Gols contra da superpotência

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Anna Capovilla

Acaso os EUA continuarão sendo indefinidamente o país mais poderoso do mundo? Não creio. Sua enorme influência internacional está ameaçada por divisões políticas internas que já se tornaram crônicas e limitam sua capacidade de liderar o mundo. Quatro exemplos recentes são bastante reveladores. 

O primeiro tem a ver com o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma instituição muito criticada, mas, que se não existisse teria de ser criada. O desafio não está em eliminá-la, mas em aperfeiçoá-la. E foi isso que os EUA propuseram em 2010 com uma série de reformas destinadas a adequar a instituição ao século 21. Entre outras mudanças, Barack Obama propôs elevar a porcentagem da China no FMI, de 3,8% para 6% – o que não reflete o fato de que, dentro em breve, o gigante asiático terá a maior economia do mundo; por outro lado, mesmo chegando a esses 6%, a China continuaria abaixo dos 16,5% dos EUA. As reformas também permitiriam aumentar o peso, no FMI, dos países emergentes, que já representam a metade da economia mundial. E tudo isso se refletiria em mudanças na composição da direção da instituição, que ainda representa a ordem mundial de 1944. 

As propostas foram aprovadas por todos os países, mas para serem postas em prática aguardam apenas a aprovação do Congresso dos EUA. Mas há cinco anos esta aprovação se tornou impossível. Ocorre que o deputado Jeb Hensarling não concorda com as reformas. Quem? O deputado Jeb Hensarling é o presidente da Comissão do Congresso que deve aprovar as reformas. E nem ele, nem seus aliados do Tea Party gostam do FMI. Desse modo, um grupo reduzido de legisladores tem a capacidade de impedir que uma instituição crucial para a economia global possa ser reformada de um modo que convém ao mundo e aos EUA.

Resultado: em 2014 a China decidiu criar seu Banco Asiático de Investimentos em Infraestruturas, para o qual convidou outros países a participar como acionistas. Washington empreendeu uma agressiva campanha diplomática para dissuadir os países de participar da iniciativa chinesa. Fracassou. Até aliados de sempre dos EUA, Grã-Bretanha, Austrália e outros países europeus, ignoraram as pressões americanas, e hoje fazem parte do grupo de 57 nações fundadoras do novo banco. Washington terá de limitar-se a observar o que faz a nova instituição sem poder influir sobre suas decisões.

Outra instituição que se destina a projetar a influência econômica dos EUA no mundo é o banco de financiamento das exportações, o Eximbank. Um grupo de deputados ameaça fechá-lo. Não importa para eles que todos os grandes países exportadores do mundo tenham instituições semelhantes, ou que, somente nos últimos dois anos, a China tenha emprestado US$ 670 bilhões em apoio às suas exportações, enquanto o Eximbank emprestou US$ 570 bilhões desde que foi criado, em 1934.

Às vezes, as situações menos visíveis são as que mais revelam tendências. Desde 1959, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é a principal fonte de recursos para o desenvolvimento da América Latina. Recentemente, o banco decidiu aumentar sua capacidade para apoiar financeiramente o setor privado na região, e para tanto planejou um aumento de capital. Para manter sua influência na área, os EUA, principal país acionista do BID, deveriam contribuir com US$ 39 milhões ao ano por 7 anos. Todos os outros países acionistas concordaram em colocar nesse prazo capital proporcional à sua porcentagem de ações. Os EUA não concordaram. A cegueira ideológica do Congresso e a incrível incompetência dos burocratas do Tesouro fez com que os EUA perdessem mais um instrumento por meio do qual poderiam influir numa região, que, segundo discursos oficiais, é prioridade. 

Larry Summers, um respeitado acadêmico que ocupou os mais altos cargos no governo americano, escreveu há pouco tempo: “Enquanto um dos dois partidos políticos persistir em sua oposição aos acordos de livre comércio com outros países, e o outro resistir a financiar as organizações internacionais, os EUA não estarão em posição para moldar o sistema econômico mundial”.

A ameaça à supremacia global dos EUA não vem de Pequim. Reside em Washington, no lamentável Congresso que poderá prostrar a superpotência. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA