Contact Us

Use the form on the right to contact us.

You can edit the text in this area, and change where the contact form on the right submits to, by entering edit mode using the modes on the bottom right. 

         

123 Street Avenue, City Town, 99999

(123) 555-6789

email@address.com

 

You can set your address, phone number, email and site description in the settings tab.
Link to read me page with more information.

Global Columns

A razão da desigualdade

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Terezinha Martino

Para outros, o aumento da desigualdade tem a ver com os miseráveis salários pagos a trabalhadores em países como China e Índia. O que empurra para baixo a remuneração dos trabalhadores do resto do mundo e causa desemprego, uma vez que as empresas "exportam" postos de trabalho do Ocidente para o Oriente.

No entanto, a questão é mais complicada e profunda, segundo Thomas Piketty, economista francês cujo denso livro Capital no Século 21 transformou-se num surpreendente sucesso mundial. Segundo ele, o capital (que equivale à riqueza e esta, por sua vez, a propriedades imobiliárias, ativos financeiros, etc) aumenta em maior velocidade do que a economia.

Os ganhos produzidos pelo capital (aluguéis de imóveis, rendimentos de investimentos, por exemplo) concentram-se num grupo mais reduzido de pessoas do que a renda fruto do trabalho, que se dispersa por toda a população. Por isso, quando os ganhos de capital aumentam mais rapidamente do que os ganhos do trabalho o resultado é um aumento da desigualdade, já que os donos do capital acumulam uma porcentagem maior da renda. E, como o crescimento da renda produzida pelo trabalho depende muito do crescimento da economia como um todo, se esta não cresce pelo menos no mesmo ritmo que os ganhos de capital a desigualdade econômica se agrava.

Piketty resume a complicada explicação desta maneira: quando "r" é maior que "g", a desigualdade aumenta. O valor "r" é a taxa de remuneração do capital e "g" a taxa de crescimento da economia. Segundo ele, no longo prazo, a economia crescerá entre 1% e 1,5% ao ano, de modo que a desigualdade deverá aumentar. Para evitar que isto ocorra, ele recomenda a criação de um imposto global e progressivo sobre a riqueza, ideia que ele próprio admite ser utópica, pois enfrentará enormes obstáculos políticos como também grandes dificuldades práticas.

A análise e as propostas do autor vêm sendo amplamente debatidas e, como escrevi em minha coluna anterior, o inusitado interesse pelo livro deve-se em grande parte ao fato de que ele foi lançado num momento em que a desigualdade tornou-se uma grande preocupação nos EUA.

Este país tem uma capacidade única para contagiar o resto do mundo com suas angústias. Assim, nações onde a desigualdade é uma doença crônica e não intensamente discutida, agora foram contagiadas com o fenômeno Piketty, o que é uma notícia muito boa. É importante que a complacência com as profundas desigualdades que os afligem desapareça.

É importante, porém, fazer um diagnóstico claro. Na Rússia, Nigéria, Brasil ou China a desigualdade econômica não é porque "r" é maior que "g". Deve-se ao fato de que há demasiados ladrões no governo e no setor privado que podem roubar praticamente sem riscos e com grande impunidade.

Parafraseando o economista, nas sociedades em que "c" é maior do que "h", a desigualdade continuará aumentando. O valor "c" é o número de funcionários públicos e políticos corruptos dispostos a violar as leis para enriquecer e "h" é o número de funcionários e políticos honestos. Pikkety baseia sua análise em dados de cerca de 20 países, a maioria deles com receitas elevadas e os menores índices de corrupção de acordo com a lista de 177 nações da ONG Transparência Internacional. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO