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Global Columns

O que há de novo na desigualdade econômica?

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Roberto Muniz

“Sou capitalista e até eu penso que o capitalismo está mal”, disse há pouco tempo Ray Dalio, fundador do Bridgewater, um dos maiores fundos privados investimento do mundo. Segundo a revista Forbes, Dalio é o número 60 da lista dos mais ricos do planeta. “Se o capitalismo não evoluir, vai desaparecer”, acrescentou. 

Jame Dimon é o chefe do gigantesco banco JPMorganChase e também anda preocupado com a saúde do capitalismo. Dimon, cujo salário anual no ano passado foi de US$ 30 milhões, afirma que “graças ao capitalismo, milhões de pessoas saíram da pobreza, mas isso não quer dizer que o capitalismo não tenha defeitos, que não esteja deixando muita gente para trás ou que não deva ser melhorado”. 

Isso não é novo. As denúncias contra o capitalismo e a desigualdade que gera são mais velhas que Karl Marx. O novo é que os titãs da indústria, cujos interesses estão muito ligados ao capitalismo, o estão criticando tão ferozmente quanto os mais agressivos críticos da esquerda. Os empresários querem consertá-lo, enquanto os críticos mais radicais da esquerda querem substituí-lo.

Obviamente, os grandes empresários não são os únicos que fazem críticas ao capitalismo. Segundo pesquisa Gallup, a porcentagem de americanos entre 18 e 29 anos que têm uma opinião favorável do capitalismo caiu de 68% em 2010 para 45%, e hoje 51% dessa faixa têm uma opinião positiva do socialismo. Isso também é novidade. 

Essas preocupações também existem no mundo acadêmico. Paul Collier, por exemplo, é um renomado economista e professor da Universidade de Oxford e no ano passado publicou um livro intitulado O Futuro do Capitalismo. No livro ele adverte que “o capitalismo moderno tem o potencial de elevar todos a um nível de prosperidade sem precedentes, mas atualmente está em bancarrota moral e vai caminhando para uma tragédia”. 

As críticas ao capitalismo são muitas e variadas e a maioria é muito antiga. A mais comum é que o capitalismo condena as grandes massas à pobreza e concentra a riqueza nas mãos de uma pequena elite. 

Essa crítica havia se atenuado graças ao êxito que tiveram países como China, Índia e outros em reduzir a pobreza. Isso ocorreu em grande medida devido à adoção de politicas de liberalização econômica que estimularam o crescimento, o emprego e aumentaram a renda. Assim surgiu a maior classe média da história da humanidade, claramente um fato inédito. 

Mas a crise financeira de 2008 trouxe de volta as preocupações com a desigualdade e reanimou as denúncias contra o capitalismo. Enquanto para países como Brasil e África do Sul a desigualdade econômica havia sido a regra, para outros significava o retorno a uma dolorosa realidade que se acreditava superada. Vários países europeus e os Estados Unidos se uniram ao grupo de nações que viram aumentar a desigualdade entre seus habitantes. 

Com as recentes erupções de populismo e instabilidade política generalizou-se a ideia de que é urgente reduzir a desigualdade econômica. Mas a concordância sobre a necessidade de intervir não veio acompanhada de uma concordância sobre como fazer isso. A falta de consenso quanto ao que fazer tem muito a ver com diferenças de opinião acerca dessa desigualdade. 

Para Donald Trump, não há dúvida: as importações da China e os imigrantes ilegais são a causa do sofrimento econômico dos americanos que deixaram de se beneficiar com o sonho americano. Isso não é verdade. Todos os estudos mostram que as novas tecnologias que destroem postos de trabalho e mantêm baixos os salários são uma importante causa de desigualdade. Uma variante dessa teoria é que um crescente número de setores industriais está dominado por um pequeno número de empresas bem-sucedidas e de grande tamanho cujas estratégias de negócios inibe o aumento de salários e o crescimento econômico. 

Nos Estados Unidos, com frequência se assinala o peso econômico desproporcional, e a consequente influência política, que adquiriram o setor financeiro e o de saúde. Para os economistas da Escola de Paris, “a desigualdade econômica é principalmente causada pela desigual propriedade do capital tanto privado quanto público”.

Essas generalizações são enganadoras. As causas do aumento da desigualdade na Índia são diferentes das dos Estados Unidos e as da Rússia são diferentes das do Chile ou da China. Em alguns países, a causa mais importante da desigualdade é a corrupção; em outros, não. 

É possível também que estejamos pensando em batalhas do século passado e que os novos desafios requeiram novas ideias. O impacto da inteligência artificial na desigualdade ainda é incerto, mas tudo indica que será enorme. E essa novidade pode tornar obsoletas todas nossas ideias sobre as causas da desigualdade e suas consequências. Tudo será novo. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ