Contact Us

Use the form on the right to contact us.

You can edit the text in this area, and change where the contact form on the right submits to, by entering edit mode using the modes on the bottom right. 

         

123 Street Avenue, City Town, 99999

(123) 555-6789

email@address.com

 

You can set your address, phone number, email and site description in the settings tab.
Link to read me page with more information.

Global Columns

O americano branco

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Roberto Muniz

Nos EUA, os homens brancos de meia-idade e com menos escolaridade estão morrendo em ritmo inusitado. Sua taxa de mortalidade é maior que a dos hispânicos ou dos negros da mesma faixa etária e do mesmo nível de educação. A mortalidade dos brancos menos educados também é mais alta hoje que no começo do século. Trata-se de um fenômeno exclusivamente americano, que não ocorre em outros países desenvolvidos.

Essa é uma das conclusões de um importante estudo que acaba de ser apresentado em Washington pelo Prêmio Nobel de Economia Angus Deaton e por Anne Case, destacada economista da Universidade Princeton e mulher de Deaton.

Já em 2015, os dois haviam causado agitação com um estudo que documentava a trágica situação da mortalidade de homens brancos dos EUA só com curso secundário. O casal revelou, por exemplo, que, enquanto em 1999 a taxa de mortalidade dos brancos sem formação superior era 30% mais baixa que a dos negros da mesma idade e mesmo nível educacional, a mortalidade dos brancos foi aumentando rapidamente e, em 2015, já era 30% mais alta que a dos afro-americanos.

Essas mudanças nos EUA revertem décadas de progresso nas quais as taxas de mortalidade caíram sistematicamente em todos os países e em todas as categorias demográficas. Durante o século passado e ainda hoje, a mortalidade em nível mundial vem declinando 2% ao ano. Os americanos brancos e sem formação acadêmica surgem como exceção. Em vez de aumentar, seus anos de vida diminuíram.

Neste grupo, suicídios e mortes por overdose de drogas e alcoolismo aumentaram dramaticamente. Os casos de câncer e de doenças cardíacas também cresceram, assim como a obesidade. Desde 2000, as mortes por essas causas entre os homens brancos americanos não hispânicos entre 50 e 54 anos de idade duplicaram. Em 2015, morriam a uma taxa duas vezes maior que a de mulheres brancas com as mesmas características – e quatro vezes maior que a dos homens brancos que foram para a universidade.

Uma explicação comum para a tragédia é o desemprego e a diminuição de renda que afetou duramente essa faixa de trabalhadores. A globalização e a automação da produção, que fizeram desaparecer empregos antes ocupados por tais pessoas, também são explicações. Deaton e Case não duvidam de que o desemprego e a consequente diminuição de renda sejam fatores importantes. Mas, segundo eles, não explicam suficientemente o fenômeno. Os dois sustentam que a maior mortalidade de brancos nos EUA tem “causas mais profundas”.

E tem de ter, pois senão como explicar que os trabalhadores hispânicos e negros, que também sofreram o desemprego e a diminuição de renda, estejam vivendo mais? E por que entre os trabalhadores europeus, vítimas da grande recessão de 2008 e das políticas de austeridade, não se veem as tendências letais que afetam os trabalhadores americanos de raça branca? Em contraste com os EUA, na Europa a longevidade dos que têm menos anos de estudo (e menor renda) continua subindo – e mais depressa que a dos europeus com maior nível educacional.

Segundo os dois economistas, as causas mais profundas do fenômeno têm a ver com o que eles chamam de “desvantagens cumulativas” – condições debilitantes e hábitos disfuncionais que esse grupo humano foi acumulando como reação a profundas mudanças econômicas e sociais. 

As mudanças começaram frequentemente com o abandono do estudo secundário e a entrada mais cedo no mercado de trabalho em épocas nas quais o emprego era abundante e os salários, atraentes. Essa “bonança trabalhista”, porém, foi se extinguindo e outras mudanças na sociedade – o papel das mulheres, o aumento do número de divórcios, a fragmentação familiar, a mobilidade geográfica – tornaram a vida mais difícil para os homens brancos. E os deixaram mais vulneráveis ao que Deaton e Case chamam de “mortes por desesperança”.

Essa desesperança causa grande sofrimento. Nos EUA, metade dos homens desempregados toma analgésicos e dois terços consomem opiáceos. O abuso dessas drogas se tornou uma epidemia gravíssima. Em 2015, mais americanos morreram por overdose de drogas que por armas de fogo e acidentes de trânsito. A imensa maioria das vítimas? Homens brancos. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ