Contact Us

Use the form on the right to contact us.

You can edit the text in this area, and change where the contact form on the right submits to, by entering edit mode using the modes on the bottom right. 

         

123 Street Avenue, City Town, 99999

(123) 555-6789

email@address.com

 

You can set your address, phone number, email and site description in the settings tab.
Link to read me page with more information.

Global Columns

Angústia de banqueiros

Andrea G

El Estadão / Moisés Naím e tradução de Claudia Bozzo

Em março de 1912, Yukio Ozaki, o prefeito de Tóquio, deu à cidade de Washington 3.020 cerejeiras. As mudas se adaptaram muito bem e se espalharam pela capital. Assim, há 107 anos, no início da primavera, essas cerejeiras florescem em um belo espetáculo.

Mas a primavera não traz só flores de cerejeira para Washington. Com ela chegam também banqueiros de todo o mundo. Eles vêm para as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que convocam os ministros da Economia e chefes dos bancos centrais de quase todos os países. Nesta semana, 2.800 deles chegaram. E 800 jornalistas, 350 representantes de organizações internacionais e milhares de banqueiros privados que se encontram com ministros e clientes.

Este ano os banqueiros mostraram-se preocupados. Gina Gopinath, economista-chefe do FMI, alertou para os fortes ventos contrários que farão com que 70% da economia mundial cresça mais lentamente em 2019. A América Latina e a Europa serão as regiões com os menores níveis de crescimento. Os fatores que retardam a atividade econômica são muitos e variados. Entre eles, as guerras comerciais iniciadas por Donald Trump, mercados financeiros mais restringidos, desaceleração da economia na China, Brexit e incerteza sobre as políticas econômicas que serão adotadas por um número significativo de países.

Como normalmente acontece em todas as convenções numerosas, o mais interessante não é o que se fala em reuniões oficiais, mas o que é ouvido nos corredores e o que é discutido em reuniões privadas. Um tema que não está na agenda oficial, mas em muitas das negociações, é a crescente ameaça à independência dos bancos centrais.

Essa independência costuma irritar os chefes de Estado que preferem ter controle da política monetária de seu país. Trump, por exemplo, criticou ferozmente a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de aumentar as taxas de juros. Mais elevadas, elas tendem a reduzir a atividade econômica, o que nenhum presidente quer.

Mas deixar as taxas de juros muito baixas pode estimular a inflação, um resultado que é inaceitável para os bancos centrais, instituições cuja missão fundamental é contribuir para a estabilidade econômica e, em particular, evitar que os preços subam. Essa tensão sempre existe e, por esse motivo, é importante proteger os bancos centrais de pressões políticas.

Nos corredores, nota-se forte preocupação com a decisão de Trump para indicar Stephen Moore e Herman Cain a governadores do FED. Esses dois aliados políticos claramente não são qualificados para influenciar a política monetária mais importante do mundo. O próprio Moore admitiu: “não sou um especialista em política monetária.”

A preocupação não é apenas que os candidatos de Trump sejam confirmados pelo Senado, mas sim que essa “captura” do banco central pelo presidente seja uma prática que venha a contagiar outros líderes propensos a concentrar o poder e comprometer os pesos e contrapesos da democracia. A independência das decisões do banco central dos interesses eleitorais presidenciais é um fator importante de estabilidade. A politização dos bancos centrais acrescentaria mais incerteza a um sistema financeiro internacional que ainda não se recuperou da crise de 2008.

Duas outras preocupações que estiveram muito presentes no encontro deste ano são a desigualdade econômica e suas consequências na estabilidade política. A OCDE, organização que reúne 36 dos países mais prósperos, informou que o padrão de vida da classe média nesses países está estagnado há uma década.

Os custos da educação e da habitação dispararam, enquanto a automação afeta negativamente tanto o emprego quanto os salários. Essas condições têm fortes repercussões políticas e contribuíram para surpresas como o Brexit, a eleição de Donald Trump e a ascensão de movimentos políticos com agendas radicais.

Há alguns dias, aceitei o convite de um grupo de sete banqueiros que me convidou para acompanhá-lo para ver as cerejeiras em flor. Foi um passeio muito agradável, onde, inevitavelmente, a conversa se concentrou em todas essas e outras preocupações. Nestas conversas, o consenso é raro. Mas havia um claro consenso entre meus companheiros de viagem sobre a necessidade de reformar urgentemente o sistema capitalista. Quais devem ser essas reformas? Nisso não houve consenso. / Tradução de Claudia Bozzo