Moisés Naím

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Reprovação à política de Obama sobe, apesar de economia melhor

Denis Chrispim Marin / El Estadão

A 29 meses do término de seu segundo e último mandato, o presidente dos EUA, Barack Obama, tem sido apontado como um "lame duck". Em português, um pato manco. Em inglês, um presidente fraco. A reprovação ao seu trabalho subiu para 53,3%, segundo a média de pesquisas calculada pelo Real Clear Politics (RCP), apesar de os indicadores econômicos apontarem finalmente a recuperação da crise de 2008.

Obama enfrenta uma maré de dificuldades desde 2010, quando sua capacidade de tomar decisões passou a ser limitada pela maioria republicana na Câmara dos Deputados. Em novembro, com as eleições legislativas de meio de mandato, as coisas podem piorar. Obama corre o risco de ver seus últimos dois anos de governo travados pela possível vitória republicana também no Senado.

A expressão depreciativa "pato manco" é usada nos EUA para definir o político ou a instituição sem possibilidade constitucional para se reeleger. No caso de Obama, o termo agrega outros significados, relacionados à fragilidade na condução de suas funções. Pesquisa recente da Quinnipiac University mostrou que o democrata é considerado o pior presidente dos últimos 70 anos por 33% dos americanos. "Essencialmente, nós já temos uma presidência lame duck em ação", afirmou o blogueiro conservador Edward Morissey, em artigo para o jornal digital The Fiscal Times.

Michael Barone, um dos mais respeitados analistas conservadores, toma cuidado para não embarcar nesse tipo de rótulo. "As pessoas não olham apenas os fundamentos da economia, mas também a capacidade de o governo manter a ordem. Não são vistos bons resultados das grandes políticas públicas", afirmou Barone ao Estado. "Obama está indo bem. Ele continua operacional. Mas não está superbem."

Segundo Barone, questões que não foram antecipadas há dois anos estão prejudicando a imagem do presidente, como a crise ucraniana e os problemas no novo sistema de saúde ou as crianças latino-americanas entrando ilegalmente nos EUA.

Lawrence Korb, analista do Center for American Progress, afirma que os americanos se mostram tradicionalmente cansados com o presidente reeleito perto de seu sexto ano de governo. O republicano Ronald Reagan sofreu desse mal. O democrata Bill Clinton atravessou fase ainda pior. Mas Obama está lidando bem e prudentemente com os grandes desafios na cena internacional, em sua opinião.

Moisés Naím, analista do Carnegie Endowment for International Peace e colunista do Estado, acredita que Obama está "mais debilitado do que antes e do que seus antecessores". Mas, segundo o especialista, qualquer outro em seu lugar estaria fragilizado.

O Legislativo americano se mostra em situação ainda pior, a ponto de não construir um texto capaz de ser aprovado pelas duas bancadas das duas casas sobre questões consensualmente consideradas importantes e de urgência - como as reformas de imigração e da legislação sobre a melhoria do sistema rodoviário. "Isso não tem nada a ver com Obama. Tem a ver com a divisão da oposição republicana", afirmou, referindo-se aos grupos de centro-direita e os extremistas do Tea Party na bancada opositora.

Naím defende, porém, que a aparência de fragilidade na tomada de decisões da Casa Branca pode ser enganadora. Obama, na opinião do analista, deixará um legado diferente e robusto: a maior reforma na área da saúde da história americana, a superação da crise econômica e a redução das emissões de gases do efeito estufa pelos EUA.